segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quando


Escrevo-te em palavras amenas em mim:
Olhei–te enquanto comigo e prossegui por curtos dias
Se de nada diferia ver-te hoje e amanhã de tal ponto
Apaixono-me agora por ti pingo de brilho a ascender-me o coração
Tenho-me e vejo-me tendo-te pois amando-te vejo-te amar-me.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Valsa das Luas


             ----- Pra não sentir-me tão azarado, gostaria de beber algo nessa noite linda e aclarada.
 Lança-se indiretamente uma sementinha. Final de agosto. Fim de noite. Aparece da escuridão amenizada pelo brilho típico. Luana estava a arrumar as cadeiras que do seu lugar foram tiradas e recolher dentre garrafas  e copos, o suspiro não identificável que deixara escapar ao escutar a voz vinda de José. Apenas beber, queria. As pessoas restantes iam concluindo a sua saída do local livre de muitas frescuras: apenas um bar feito de barro - e palhas e sustentação - , mesas de madeira, pouco espaço coberto, natural. Pelo ar que trouxera o enigmático sedutor, Luana até sem jeito ficou.
Bebeu.
----- Com esta música a tocar, minha vontade real é dançar, o convite está feito.
Não se ouve ruído nem resposta, nem suspiro que disfarçou-se.
Luana vira-se para José no momento em que, com a pergunta seqüente, ele planeja matar o segundo coelho da única cajadada:
----- Mora por redondezas, moça de nome Setembrina?
Noutra noite do mesmo mês, alegando fome e conhecimento do lugar, José ressurge. Com a boca comendo alimento e com os olhos, Luana, oferece-lhe um papelzinho onde lia-se: “ainda espero pela ocasião na qual vamos bailar, solitariamente, amanhã”. Luana estremece sozinha, lendo o bilhete apenas depois que José retira-se. Sem importância momentânea, nas costas do bilhete: “Solange”. Seguindo-se um endereço que fora visitado à luz do dia.
Esvaziado de almas, a não ser o par que pretende encontrar seus corpos constituintes em uma dança denominada por José como “Valsa das Luas”. Acontece. Dançaram a um som que tornava-se a cada instante maravilhosamente melhor.
Luana apaixona-se.
Sob a lua, cumprido o desejo de José com Luana, ele volta apenas para pegar a última informação necessária: sobre Setembrina. Com os olhos encantados por lembranças, Luana responde o que sabe e depois implica: ----- Como ficamos nós, José?
Sem preocupações notórias ou interiormente guardadas, deixando frustrada Luana e toda a situação, José finaliza: ----- Não existe “nós”, Luana. O tempo nublou e já chegou setembro, eu preciso de lógica.
Deixa Luana entre copos sujos e garrafas vazias, com sede de coerência.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pássaros



O pássaro passou assim
Com passinhos pelo pasto
Esqueceu-se das asas Curumim
Já não era aquilo nefasto
Descobriu o pássaro enfim
Que passara-se longo tempo
Sem voar e passou por mim
Que voava ao sabor do vento.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mazelas de Menina


           Viver era-lhe insípido, tentara empunhar a si mesma ao trágico fim que para então fazia-se unicamente solução. Inserida em um vestido finalizado na medida dos joelhos, bege ,de seda elencado por pobres rendas periféricas e alguns buracos indesejados, a boca apresentando-se com erosões labiais que o vento construira nos últimos dias. Seios belos e livres sob a veste. Estava descalça pisando sobre as pedras camonianas e o abismo à frente mantinha o convite. As pedras que a acolheram em melhor época de sua vida, os estudos e livros, faziam o mesmo na pior delas. Havia sido rodeada de falastrões – mãe, companheiro, irmão – eis a semente: não ofereceu flores, apenas espinhos e com exceção do profundo convidativo em que estava à mercê, escolhida por ela mesma. Ventava, ventava em uma fúria calma. Não havia frio, não climático; e a leve brisa apenas a estimulava. A morte representava-lhe o alcácer.  Rosália era de uma cor celeste diária de abril em presença do sol. Coração puro e olhar perdido, era início da manhã e da concretização de um desejo que crescera: Rosária matar-se-ia. Cansou das tantas vozes. Estava parada, em meio à sua confusão e aparentemente decidida. Arrostava a situação em sua mente, as memórias reboavam: suas leituras, tão abstratas e sua única verdade. Queria se matar, Rosália. Unhas descuidadas, o cabelo longo de castanho acinzentado e os olhos... estes sim, gritavam por sentido – o qual fazia-se naquele voo planejado, construído. Como uma águia, rumo ao mar. Jogar-se-ia, decididamente. As diversas literaturas pintalgavam seu pensamento inconcluso. Rosália desensarilhou o que levaria no pulo, o melhor lido, o resto ficaria nas pedras e ao mundo.
 Berço das dores, algo copioso.
             Quis diferença, não teve, quis diferente.
        Seu conhecimento basco, estudos de latim, literariedades longínquas. Recordou-se do aroma do marido, enquanto agradou-se em acariciar suas junturas com a língua, a mesma que sabia ainda francês. Seus olhos de anil traziam a moléstia crucial: sintomas de antivida.
            Estática, postada ao final do pisável e com o olhar suicida, tomaria sua atitude. Poderia realizar inúmeras leituras. Com a mente em liça, Rosália fita o mar sem fim.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Circo




Todos vêm aqui pra rir
Faço animar-se a quem seja
Sempre antes de sair
De rir doendo a barriga esteja
Falo bobagens e encenação
A quem vem pra me ouvir
Só não falo palavrão
Até xixi ia sair
Bastante e tão engraçado
Hilário, bizarro e risonho
Já estava planejado
Até realizo sonho
Das crianças a pular
Com os pais vem assistir
Os olhinhos a brilhar
Atração que lhes faz sorrir
Pra me ver é só entrar
Ninguém sabe meu cansaço
Ponha-te então a pensar
Quem faz sorrir ao palhaço?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entre absolutamente todas as coisas existentes, há zilhões de ligações umas com as outras e relações incomensuráveis com histórias incontáveis. Em verdade eu não as conheço, então as invento. Sou um grande mentiroso, mas, de invenções. Ora, se acabou de ser inventado, logo, não pode ser provado como mentira, pois necessário seria, exatamente o contrário. Se o contrário não pode vir antes do descontrário, bom... mas quem disse que não pode? O contrário veio primeiro, pra nascer o DES, precisou vir antes o que não era DES: que nesse caso é o contrário. Solucionado: sou apenas contador de histórias, sem fraudar o oculto, pois é inovador. Ou você acha que os integrantes mais diversos e distintos desse enorme universo não dialogavam entre si? Se não dialogavam, já se viram um dia, e pensaram coisas, então eu vim contar seus pensamentos. Sem fofocar.